quarta-feira, 31 de março de 2021

Do Projeto,Crônicas Esparsas.Um Negro. E de quebra,um som.

Um,dois,três ... gravando ...


Ela sangrou a morte,com faca de aço.

Triscou o chão,num ódio tão grande,qual trovão relampejante.

A alma doía.

O corpo tremia,convulsivo.

Por quê,ele?

Menino bom,generoso,trabalhador,estudioso ... 

Ali,em meio à calçada,baleado.

Quando ouviu os tiros,saiu da cozinha de faca em punho,porque destrinchava a galinha,comida preferida dele.

E ali,sem vida,um corpo despertava curiosos,amigos,inimigos ...talvez ... quem poderia ter feito a barbaridade?

Vítima!

Negro da periferia.

E o Mundo ficou pequeno,mediante tanto ódio.

Ela se agigantou,grunhiu feito porco do mato.

Depois,foi amiudando,amiudando,encolhendo na dor.

Qual ela,tantas Marias-das-Dores.

Qual ele,quantos Joãos-de-Deus,desamparados socialmente,marginalizados em detrimento da cor,da pobreza ...

Esse sonhava ser doutor.

Pois,sim.

Negro de periferia,carimbado,sempre foi.

(Ou é passador,ladrão,viciado,avião ou devedor...)

Uma voz ecoou:- Eu vi!

- Milico à paisana.

- Na pressão,mano!

E ninguém entendeu nadica de nada.

Todo mundo pagava pedágio,por ali.

E Jãnzinhobão se foi.

De dia,trabalhava pesado,de noite,sorvia livros,escrevia no escuro,até.

Sonhava,sorria e dizia,que seria doutor.

Mas Joãozinhobão se foi.

Com ele,a alma da mãe.

O recado foi bem dado pra toda comunidade.

Tata Junq


*** De quebra um som!

#músicatudodebom




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