segunda-feira, 13 de julho de 2020

Do Projeto, Uma Alma Masculina./ Tata Junq // Manuel e ...


( Imagem,via Google.)
******************************************************

Olhei atento a ele.
Observava-me por longo tempo.
No parapeito da janela,qual fora uma estatueta,genuína.
Não miava,somente olhava-me.
Assim por vários dias.
Intrigou-me.
O que poderia querer com esse velho rabugento aqui?
Hora do café ... derramei todo o leite,e esbravejei.
Olhei pra janela,ele não estava.
Já dizia,Matilde, minha falecida mulher,"não se chora por leite derramado".
Eu retrucava sempre,há quem queira.
E,pensei no gato.
Poderia abrir a janela pra que ele entrasse e saboreasse,todinho o leite,que se espalhara.
Mas cadê o gato?
Passaram-se dias ...
Nada do gato.
Começo a pensar,que seria espírito de gato.
Passando no quintal,me atrevera,pois anda muito frio ... ia pegando as toras de madeira,pra aquecer a casa ... e escuto miadinhos ...
Não é que o gato,era gata-parideira e estava escondidinha com seus miúdos?
Amoleceu-me o coração.
Cuidadosamente,recolhi um a um ... ela me olhava,complacente.
Por fim,chamei-a,sem querer de Matilde.
Vamos pra casa,Matilde?!
Acompanhou-me.
Hoje em dia é minha família.
Os miúdos reinam de cá e de lá.
Matilde,ainda sobe no parapeito da janela.
Seu olhar é amoroso ... depois desce e fica a ronronar,no meu colo,na cadeira do balanço.
Meus dias deixaram de ser vazios.
Essa Matilde não vive a bronquear e me aquece.
E rio alto ao resmungar isso.
E acrescento: - Que Deus a tenha,Matilde,em bom lugar!
Registrando minha vivência,neste caderno amarelento,sabe-se por Deus até quando.
Amanhã falo da estrelinha,que veio a nos visitar.
Hoje chove a potes!!!
E Matilde olha essa chuva,que parece não ter fim.

Manuel,que por hora espreita o parapeito da janela,molhado,sem nostalgias.
Eu mesmo,o velho Manuel,meio que lá,menos ranzinza.
O que pode vir a correr mal?

(Inverno de 1943/ Portugal.)


( Do Projeto,Uma Alma Masculina. Por : Tata Junq)

Sem comentários: