sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Do Projeto,Alma Feminina: A volta.



( Imagem por pesquisa / Google.)


Abrir de janela.
Folhas batendo ao vento.
Rua antiga,casa antiga,jardim antigo,flores novas.
Sonhos adormecidos.
Sentei-me ao chão,sem cerimônias ...pés descalços,alma cansada.
Inclinei minha cabeça,tentando alcançar ângulo de visão.
A árvore havia crescido,envelhecido.
Eu,também.
E pude ver-me no balanço,cabelos ao vento,olhos agarrados no firmamento.
Nuvens-de-algodão-doce,bichos gigantes,pequenos ... elefantes...anjos,meninos,gigantes.
Um vai-vem,nas alturas. Sorrisos soltos e a voz de mamãe dizendo:
- Liza,vai cair daí!
- Um minuto pra descer!
E os minutos,sempre viravam horas,incansáveis.
E incansáveis eram os carinhos da minha mãezona,tão linda,tão guerreira,tão precisa.
Espiei o lado esquerdo ...a alameda que daria no cemitério.
Lá sempre esteve meu pai.Eu o conhecia por foto.Quando nasci, ele havia partido pro céu-de-algodão.
Eu falava com ele,no meu balanço e sabia que ele sorria pra mim.
Mamãe dizia que eu era igual a ele,sonhador,risonho,atrevido.
Hoje ela está lá ao lado dele.
Vim matar a saudade.
Vim na verdade,reorganizar minha vida,talvez aqui morar.
Não ouso levantar deste chão,que guardam meus passos minúsculos,e alegrias da menininha
que fui,xodó da mamãe,muito amada por meu pai,na barriguinha dela.
Ahhhh ...saudades da companhia dele,no céu.
Hoje,uma rosa abriu.
( ...a roseira mora junto às margaridas,dálias,crisântemos,cravinhas ...)
É amarela.
Rosa amarela,linda e meu sorriso amarelo.
Casa amarela,de portas verdes e janelas marrons.
Quero suavizar esses tons.
Suavizar-me também.
Olho atenta a varanda,vendo disponibilidade de arrumações.
( ... olhar de menina no chão,de coração na palma da mão.)
Há poeiras para espanar.
Convite às aranhas pra que se mudem.
Creio,que já decidi ficar,só não havia admitido ainda.
Seria e será um bom lugar.
Um lar.
Um lar familiar,com energias  que me inundam agora.
Comprarei uma cadeira de balanço,ficará bem aqui onde estou sentada agora e daqui também alcançarei o céu.
Verei chuvas,dias ensolarados,sentirei o vento,verei folhas ao chão,flores colorindo o jardim,e terei resgatado,o carinho, que ainda existe em mim,tão bem plantado.
Família,de duas mulheres e um homem morto.
Hoje, voltei às minhas origens.
Só?
Ainda os tenho,colados n'alma.
E,no cansaço,levanto-me.
Vou ao hotel e amanhã começo a organizar e planejar esta casa,passo a passo,colorindo,qual desenho no papel de pão.
Aqui nasceu a arquiteta de agora.
Aqui nasceu a menina, que desenhava casinhas- de-João de-Barro.

Uma Alma Feminina / Eliza Prado.
( Por Tata Junq)

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