( Imagem,via Google. Psych Central )
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O antigo me fascina ...
Tenho em mente o quarto,janela aberta,cortina branquinha voando ao vento ...
Ahhh ... aquela escrivaninha ... um amarelo,escuro,pés torneados. A cadeira estofada,num amarelo, também,ouro-escuro.
Livros dispostos,um diário,com capa de madrepérola,gaveta com chave,de um bronze escuro,acinzentado.
Esperavam-me,também,a caneta e o mata-borrão.
Procuro o vaso de porcelana,que ficava de canto,no criado-mudo.
Este não vi ... nem as camélias,depositadas,todos os dias,umas rosadas,outras brancas ...
Nem ouso olhar através da janela,o jardim ... Tão lindo era...
Secou,de certo.
Ouso querer sentar e mais uma vez escrever e evitar borrões.
Abro meu diário,e caprichosamente,a caneta desliza...
Como num sonho,vejo-me,assim como vejo Heloísa bordando e tagarelando,sentada em minha cama.
Eu sorrio,contente ... a caçulinha da família é prendada,bela,divertida,companheira.
Uma bênção!
E eu lhe digo : - Vá,vá ... tomar sol ... está um dia bonito!
E ela responde: - Um passarinho me disse,que você tem segredinhos aí pra contar ...
E imitando pássaros,sai de cena,gargalhando ...
Eu repito: - Vá,vá,vá!
Sinto uma imensa saudade invadir meu peito,chega a doer.
E,juro,escutei a voz da nossa mãe,cantarolando.
Na certeza cuida das flores.
Então,Álvaro,querido irmão,ela hoje conseguiu cantarolar ... demorou muito pra que isso acontecesse.
Você se foi tão abruptamente,deixando um vazio tão imenso,tão dor.
Você consegue nos ver?
Juntamos os cacos ... um a um.
A morte não é bonita.Não para quem fica.
Mamãe envelheceu ... como se as rugas espelhassem sua alma sofrida.
Eu ainda a escuto cantarolar ... hoje seria seu aniversário, ou é,nem sei dizer da sensação de agora.
Depois destes seis anos,eu a escuto cantar.
Coisas da Primavera!
Tudo combina,vibra e embeleza.
Queria muito lhe dar um presente surpresa,num abraço infinitamente amoroso e acolhedor.
Mamãe canta e eu choro.Choro de saudade e de alegria.
Ela conseguiu cantar....e note bem,não está ao piano.
Hoje tateia flores.
O piano está onde sempre esteve,mas fechado.
Como se num livro, uma estória a terminar.
Eu lhe amo!
Guardo a caneta,fecho o diário.
Toco a escrivaninha com saudade.
No pulo do tempo,eu sei agora porque não consegui ver o vaso e flores.
Na certeza,não houve mãos,encantadas a recolhê-las.
Nem mais cantorias,nem nada.
Driblei a mente,e pesquei um momento.
Tão com sentido. E consentido.
Eu me vi.
Eu me senti.
E tinha tranças amarelas.
Vitória Neves
( Nome fictício.)
(Uma Alma Feminina.)
**( Do Projeto,Uma Alma Feminina. Por: Tata Junq.)
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