quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Pensamentar & Projeto Alma Feminina: Expulsão.



Senti seu corpo tremer,naquele abraço.
Breve instante revelador de seu descompasso ... despedida.
Mesmo assim,sentimento disfarçado,atrelou sua mala...e foi.
Olhou pra trás ... mas não teve coragem de retornar e ficar.
Nunca teve coragens para ficar.
Vivi então,desses momentos ... do vir e ir.
Nunca fincou raízes ...
São Paulo lhe abrigou, terra distante.
Tenho a goela seca.
Língua sem articulação...
E pensamentos fugitivos.
Meu coração lhe expulsa.
Chega de você!

( Uma Alma Feminina.)


Tata Junq

Momento Reflexivo: Ais! Ai de mim.



Como num combate, fuzilaram minha alma,minha mente ...
E,como peneira furada ...escorrem meus ais.
Ai, que te quero!
Ai,que te espero!
Alma na maca!
Mente rastejando no chão ...sobrevivente,camuflada.
E, gemo em palavras!
Que ecoam sozinhas ...pra nada!
Ai,ai,ai,aiiiiii...!
Ai-ai-ai-ai-ai-ai-ai-ai-i-i-i-i....!!! 

Tata Junq

Projeto Luz às Ignorâncias: Baudelaire & Projeto Alma Feminina.







[POESIA] UMA CARNIÇA – CHARLES BAUDELAIRE


Lembra-te, amor, do que nessa manhã tão bela,
Vimos à volta de uma estrada?
- Uma horrenda carniça, oh que visão aquela!
Aos pedregulhos atirada; 

Com as pernas para o ar, qual mulher impudente
Tressuando vícios e paixões
Abria de maneira afrontosa e indolente
O ventre todo exalações;
Radiante, cozinhava o sol essa impureza,
A fim de tendo o ponto dado,
Cem vezes restituir à grande natureza
Quando ela havia ali juntado.
E contemplava o céu a carcaça ostentosa,
Como uma flor a se entreabrir!
E o fétido era tal que estiveste, nauseosa,
Quase em desmaios a cair.
Zumbiam moscas mil sobre esse ventre podre
De onde os exames vinham, grossos,
De larvas, a escorrer como azeite de um odre.
Ao longo de tantos destroços.
E tudo isso descia e subia em veemência
ou se lançava a fervilhar…
Dir-se-ia que esse corpo a uma vaga influência
Vivia a se multiplicar!
– Era um mondo a vibrar sons de música estranha,
Bem como o vento e a água em carreira
Ou o som que faz o grão que o joeirador apanha
E agita e roda na joeira,
E tudo a se apagar mais que um sonho não era,
- Esboço lento a aparecer
Sobre a tela esquecida, e que um artista espera
Só, de memória, refazer.
De uns rochedos, por trás, uma cadela quieta,
com desgostoso olhar nos via
espiando a ocasião de retomar, à infecta
ossada, o que deixado havia,
– E no entanto hás de ser igual a essa imundícia,
A essa horripilante infecção,
Astro dos olhos meus, céu da minha delícia.
Tu, meu anjo e minha paixão!
Assim tu hás de ser, oh rainha das Graças!
Quando depois da extrema-unção
Fores apodrecer sob a erva e as flores baças,
Entre as ossadas, pelo chão!
……………………………………………………………..
Diz então, lindo amor, à larva libertina.
Que há de beijar-te em lentos gostos,
Que eu a forma guarde, mais a essência divina,
Dos meus amores decompostos!
Trad.:Álvaro Reis

*******************************************

Num dia ... ouvi parte desses versos ...em outro,no registro de um torpedo ...
Um dia serei um amor decomposto ... em cinzas.
(Espero.)
Quanto às larvas"libertinas"... talvez beijem-me em pensamentos,e corroerão meu ser ...
Sem mortes ...
Vivo a lembrar-te.
Que será de ti?
Que há de mim?
Saudade é como verme-faminto ... faz estragos ...quando a falta de,toma os pulsos, e faz direção,buscando momentos.
Saudade agora, é verme!
Come-me,devagar ...
E tem formas,um corpo,uma alma que não pude tocar ...
Bem quis te amar ... bem quis ... e, amei-te a cada palavra,a cada olhar,a cada toque.
Nos solitários pensamentos ... dedilho as teclas,qual acordes de um violão ... formo palavras,que me despem ... E infinda dor,cobre-me.
Assim o é.
Agora, ao relembrar poesia,essência-criativa , do admirável Baudelaire ... ressuscitei a tua imagem.
Beijo-a como foto antiga e sorrio em dor.
Dor da saudade.
Dor por tua boca muda ... que poderia muito bem estar beijando a minha.
Assim o é!

Tata Junq

( Uma Alma Feminina.)


Poetando : O que quero ...






O que quero da vida,senão vida?
Sou miosotes, movida a ventos-brisas...
Uma beleza miúda,escondida.

O que quero da vida,senão vida?
Sou monge-legítimo,
dos meus silêncios.

O que quero da vida,senão vida?
Sou fio d'água,
escorrendo da fonte,
comum,
na praça.

O que quero da vida,senão vida?
Sou túmulo,
sem cruzes,
à espera da morte.

Tata Junq